Actualidade
O que há de novo no cancro da pele
João Maia Silva Dermatologista; Consulta Multidisciplinar de Melanoma Maligno do Hospital de Santa Maria

Nos últimos anos têm sido realizados avanços promissores no tratamento do melanoma e de outros cancros de pele. É notável o progresso feito no tratamento do melanoma metastático. No entanto, muitas pessoas ainda não beneficiam das drogas mais recentes, enquanto outras muitas vezes recaem após um tratamento inicial bem-sucedido.

A Dermatologia continua envolvida nos avanços mais recentes do tratamento do melanoma e de outros cancros de pele. E são muitos os tópicos de investigação em curso na atualidade. Ora vejamos...

A cirurgia continua a ser o tratamento padrão no tratamento do melanoma em estádio precoce, e como parte do tratamento na doença avançada.

No entanto, grandes avanços têm ocorrido no desenvolvimento de tratamentos que visam diretamente mutações específicas nas células de melanoma ou que aproveitam o sistema imunológico para atacar o melanoma. Ambas as abordagens – terapias direcionadas e imunoterapias – levaram a melhorias dramáticas na sobrevida dos doentes com melanoma avançado na última década.

No campo das terapias direcionadas, os trabalhos continuam a explorar maneiras de tornar esses tratamentos mais eficazes num maior número de doentes, quer através de novas moléculas quer através de associações de fármacos.

No entanto, embora estes fármacos sejam eficazes, grande número de doentes desenvolve resistência dentro de algum tempo. Atualmente, procura-se clarificar os mecanismos usados pelas células de melanoma para crescer na presença dessas terapias direcionadas, com o objetivo de encontrar maneiras de superar a resistência. Nesta linha de investigação, estão a ser testadas novas combinações de fármacos que visam a via B-Raf de formas diferentes das existentes.

Também a imunoterapia tem mostrado resultados impressionantes em algumas doentes com melanoma avançado, isoladamente ou em combinação. Combinações como nivolumab e relatlimab mostraram recentemente a melhoria da sobrevida dos doentes, o que justificou a sua aprovação pela FDA em 2022.

Também tem sido testada a combinação de inibidores de checkpoint imunológico com imunoestimulantes. Os imunoestimulantes produzem um tipo de alarme químico no corpo que ativa o sistema imunológico contra uma ameaça. Num pequeno ensaio clínico que combinou pembrolizumab com um imunoestimulante, observou-se uma resposta em quase 80% das pessoas que receberam os dois tratamentos. Ensaios maiores desta e de outras combinações estão em curso.

Outra área de investigação é a modulação do microbioma intestinal. Por exemplo, um estudo recente mostrou que modular o microbioma intestinal dos doentes pode tornar o melanoma mais propenso a responder ao tratamento com um inibidor de checkpoint imunológico.

Também a sequência de administração dos fármacos é tópico de acesa investigação. Uma questão premente reside em definir se os doentes com melanoma BRAF mutado beneficiam de fazer primeiro uma combinação de terapias direcionadas ou, pelo contrário, devem iniciar combinação de imunoterapia. Recentemente, o estudo DREAMseq indiciou existir vantagem em iniciar primeiro a combinação do inibidor de checkpoint imunológico. Continuará seguramente a ser tópico aceso.

Outro ponto de atualidade, é a procura de biomarcadores no melanoma que possam prever quais tumores podem responder e a que terapêuticas.

Outros tipos de imunoterapia, chamada de terapia celular adotiva (ACT), também está a ser testada em doentes com melanoma metastático. Embora os resultados sejam promissores, estas terapêutica são ainda muito dispendiosas, complexas e não isentas de efeitos secundários graves. Outra linha de investigação que está a ser trabalhada é o uso de células imunes recolhidas dos doentes, alteradas para torná-las melhores a destruir células de melanoma e posteriormente recolocadas em circulação nos doentes.  Outra ideia em estudo é, ainda,  encontrar proteínas nas células cancerígenas que sejam reconhecidas pelas células imunológicas de muitas pessoas. Isso permitirá a criação de terapias de células T “prontas para uso” que não precisam de ser preparadas de forma personalizada para cada doente.

Finalmente, a terapia adjuvante após cirurgia por melanoma. Em vários ensaios clínicos, todos os três inibidores do checkpoint imunológico reduziram o risco de recorrência quando administrados após a cirurgia, embora muitos doentes tenham apresentado efeitos colaterais relevantes. Mais estudos são necessários para entender como identificar as pessoas nos diferentes estádios da doença que podem beneficiar da terapia adjuvante.

Da mesma forma que se avança nas indicações da terapia adjuvante, trabalhos vão explorando se os inibidores de checkpoint imunológico podem ser mais eficazes se administrados antes da cirurgia. Vários estudos estão a comparar os resultados de doentes com melanoma de alto risco de recorrência que recebem pembrolizumab antes e depois da cirurgia com os doentes que recebem o medicamento somente após a cirurgia.

Ficam assim sublinhados alguns tópicos de investigação na área do melanoma. Semelhante fervor é observado noutros tipos de cancro da pele dando esperança de novas abordagens terapêuticos para um futuro próximo. E sempre com o envolvimento da Dermatologia.

Partilhar: